Derivada do latim litterae,
que quer dizer letras, a palavra literatura significa uma instrução ou um
conjunto de saberes ou habilidades de escrever e ler bem, e relaciona-se com as
artes da gramática, da retórica e da poética. Por extensão, refere-se
especificamente à arte ou ao ofício de escrever. Todavia, vejamos o conceito da
literatura sob o ponto de vista de alguns escritores.
“Para mim, o ato de escrever é muito
difícil e penoso, tenho sempre de corrigir e reescrever várias vezes. Basta
dizer, como exemplo, que escrevi 1100 páginas datilografadas para fazer um
romance no qual aproveitei pouco mais de 300.” Fernando
Sabino.
“Escrever é um trabalho duro. Uma frase clara não sai por acidente e poucas saem na primeira, na segunda ou mesmo terceira tentativa. Lembre-se disso como consolo nos momentos de desespero.” William Zinsser.
“Reescrevi trinta vezes o último
parágrafo de Adeus às Armas antes de me sentir satisfeito.” Ernest
Hemingway.
“Escrever é uma chatice. Gosto mais de ler do que de escrever [...] Todo dia, antes de começar a escrever, eu lia o meu livro desde o começo, de maneira que ele ficava todo na minha mão." Chico Buarque.
"Escrever é um sofrimento." Claude
Lévi-Strauss.
"Escrever livros dá trabalho" – Gabriel García Márquez durante a Feira do Livro de Guadalajara, no México.
“Escrever é esquecer. A literatura é a
maneira mais agradável de ignorar a vida. A música embala, as artes visuais
animam, as artes vivas (como a dança e a arte de representar) entretêm. A
primeira, porém, afasta-se da vida por fazer dela um sono; as segundas, contudo,
não se afastam da vida - umas porque usam de fórmulas visíveis e, portanto
vitais, outras porque vivem da mesma vida humana. Não é o caso da literatura.
Essa simula a vida. Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um
romance dado sem narrativa. Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos
em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso." Fernando
Pessoa.
"[...] talvez porque para as
outras vocações eu precisaria de um longo aprendizado, enquanto que para
escrever o aprendizado é a própria vida se vivendo em nós e ao redor de nós. É
que não sei estudar. E, para escrever, o único estudo é mesmo escrever." – Clarice
Lispector – ao ser perguntada sobre os motivos que
escolheu a literatura para sua vocação.
"É preciso coragem. Uma coragem
danada. Muita coragem é o que eu preciso. Sinto-me tão desamparada, preciso
tanto de proteção... porque parece que sou portadora de uma coisa muito pesada.
Sei lá porque escrevo! Que fatalidade é esta?" Clarice
Lispector.
“Já que se há de escrever, que pelo menos não
se esmaguem com palavras as entrelinhas.” Clarice
Lispector.
“Não quero ter a terrível limitação de
quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade
inventada.” Clarice Lispector.
“Escrevo por não ter nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens. Escrevo porque sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse sempre a novidade que é escrever, eu me morreria simbolicamente todos os dias.” Clarice Lispector.
“Escrevo por não ter nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens. Escrevo porque sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse sempre a novidade que é escrever, eu me morreria simbolicamente todos os dias.” Clarice Lispector.
"Eu escrevo sem esperança de que o
que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a
gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de
um modo ou de outro...” Clarice Lispector.
"Escrever é procurar entender, é
procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento
que permaneceria apenas vago e sufocador. Escrever é também abençoar uma vida
que não foi abençoada." Clarice Lispector.
“Escrevo porque encontro nisso um prazer que não consigo traduzir. Não sou pretensiosa. Escrevo para mim, para que eu sinta a minha alma falando e cantando, às vezes chorando..." Clarice Lispector.
“Escrevo porque encontro nisso um prazer que não consigo traduzir. Não sou pretensiosa. Escrevo para mim, para que eu sinta a minha alma falando e cantando, às vezes chorando..." Clarice Lispector.
"Minha liberdade é escrever. A
palavra é o meu domínio sobre o mundo." Clarice
Lispector.
Jorge Amado dizia que, a partir de certo momento de seu processo criativo, os
personagens passavam a ter ida própria, tirando dele parte do controle sobre
seus destinos. Através do poema “O lutador”, Carlos
Drummond de Andrade expressa a sua luta com as
palavras, tentando atraí-las para perto de si.
Lutar com palavras é a luta mais vã. Entanto lutamos mal rompe a manhã. São muitas, eu pouco. Algumas, tão fortes como o javali. Não me julgo louco. Se o fosse, teria poder de encantá-las.Mas lúcido e frio,apareço e tento apanhar algumas para meu sustento num dia de vida.Deixam-se enlaçar,tontas à carícia e súbito foge-me não há ameaça e nem 3 há sevícia que as traga de novo ao centro da praça. Insisto solerte. Busco persuadi-las. Ser-lhes-ei escravo de rara humildade. Guardarei sigilo de nosso comércio. Na voz, nenhum travo de zanga ou desgosto. Sem me ouvir deslizam, perpassam levíssima se viram-me o rosto.Lutar com palavras parece sem fruto.Não têm carne e sangue…Entretanto, luto. Palavra, palavra (digo exasperado), se me desafias, aceito o combate. Quisera possuir-te neste descampado, sem roteiro de unha ou marca de dente nessa pele clara. Preferes o amor de uma posse impura e que venha o gozo da maior tortura. Luto corpo a corpo, luto todo o tempo, sem maior proveito que o da caça ao vento. Não encontro vestes, não seguro formas, é fluido inimigo que me dobra os músculos e ri-se das normas da boa peleja. Iludo-me às vezes, pressinto que a entregasse consumará. Já vejo palavra sem coro submisso, esta me ofertando seu velho calor, aquela sua glória feita de mistério, outra seu desdém, outra seu ciúme, e um sapiente amor me ensina a fruir de cada palavra a essência captada, o sutil queixume. Mas ai! é o instante de entreabrir os olhos:entre beijo e boca, tudo se evapora. O ciclo do dia ora se conclui 8 e o inútil duelo jamais se resolve. O teu rosto belo, ó palavra, esplende na curva da noite que toda me envolve. Tamanha paixão e nenhum pecúlio. Cerradas as portas, a luta prossegue nas ruas do sono.
O gigolô das palavras (Luis Fernando Veríssimo).
Quatro ou cinco grupos diferentes de
alunos do Farroupilha estiveram lá em casa numa mesma missão, designada por seu
professor de Português: saber se eu considerava o estudo da Gramática
indispensável para aprender e usar a nossa ou qualquer outra língua. Cada grupo
portava seu gravador cassete, certamente o instrumento vital da pedagogia
moderna, e andava arrecadando opiniões. Suspeitei de saída que o tal professor
lia esta coluna, se descabelava diariamente com suas afrontas às leis da
língua, e aproveitava aquela oportunidade para me desmascarar. Já estava até
preparando, às pressas, minha defesa ("Culpa da revisão! Culpa da
revisão!"). Mas os alunos desfizeram o equívoco antes que ele se criasse.
Eles mesmos tinham escolhido os nomes a serem entrevistados. Vocês têm certeza
que não pegaram o Veríssimo errado? Não. Então vamos em frente.
Respondi que a linguagem, qualquer
linguagem, é um meio de comunicação e que deve ser julgada exclusivamente como
tal. Respeitadas algumas regras básicas da Gramática, para evitar os vexames
mais gritantes, as outras são dispensáveis. A sintaxe é uma questão de uso, não
de princípios. Escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo. Por
exemplo: dizer "escrever claro" não é certo, mas é claro, certo? O
importante é comunicar. (E quando possível surpreender, iluminar, divertir,
mover... Mas aí entramos na área do talento, que também não tem nada a ver com
Gramática). A Gramática é o esqueleto da língua. Só predomina nas línguas
mortas, e aí é de interesse restrito a necrólogos e professores de Latim, gente
em geral pouco comunicativa. Aquela sombria gravidade que a gente nota nas
fotografias em grupo dos membros da Academia Brasileira de Letras é de
reprovação pelo Português ainda estar vivo. Eles só estão esperando, fardados,
que o Português morra para poderem carregar o caixão e escrever sua autópsia
definitiva. É o esqueleto que nos traz de pé, certo, mas ele não informa nada,
como a Gramática é a estrutura da língua, mas sozinha não diz nada, não tem
futuro. As múmias conversam entre si em Gramática pura.
Claro que eu não disse isso tudo para
meus entrevistadores. E adverti que minha implicância com a Gramática na certa
se devia à minha pouca intimidade com ela. Sempre fui péssimo em Português. Mas
- isso eu disse - vejam vocês, a intimidade com a Gramática é tão indispensável
que eu ganho a vida escrevendo, apesar da minha total inocência na matéria. Sou
um gigolô das palavras. Vivo às suas custas. E tenho com elas exemplar conduta
de um cáften profissional. Abuso delas. Só uso as que eu conheço, as
desconhecidas são perigosas e potencialmente traiçoeiras. Exijo submissão. Não
raro, peço delas flexões inomináveis para satisfazer um gosto passageiro.
Maltrato-as, sem dúvida. E jamais me deixo dominar por elas. Não me meto na sua
vida particular. Não me interessa seu passado, suas origens, sua família nem o
que outros já fizeram com elas. Se bem que não tenho o mínimo escrúpulo em
roubá-las de outro, quando acho que vou ganhar com isto. As palavras, afinal,
vivem na boca do povo. São faladíssimas. Algumas são de baixíssimo calão. Não
merecem o mínimo respeito.
Um escritor que passasse a respeitar a
intimidade gramatical das suas palavras seria tão ineficiente quanto um gigolô
que se apaixonasse pelo seu plantel. Acabaria tratando-as com a deferência de
um namorado ou a tediosa formalidade de um marido. A palavra seria a sua
patroa! Com que cuidados, com que temores e obséquios ele consentiria em sair
com elas em público, alvo da impiedosa atenção dos lexicógrafos, etimologistas
e colegas. Acabaria impotente, incapaz de uma conjunção. A
Gramática precisa apanhar todos os dias pra saber quem é que manda.
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