~~ INTRODUÇÃO ~~
As atividades humanas encontram-se, por unânime consenso, em um estado deplorável. Esta, no entanto, não é uma novidade. Olhando para trás até onde podemos, elas sempre estiveram em um estado deplorável. O pesado fardo de desgraças e misérias que os seres humanos devem suportar, seja como indivíduos, seja como membros da sociedade organizada, é substancialmente o resultado do modo extremamente improvável – e ouso dizer estúpido – pelo qual a vida foi organizada desde os seus inícios.
Desde Darwin, sabemos que compartilhamos a nossa
origem com as outras espécies do reino animal, e todas as espécies, sabe-se, da
lombriga ao elefante, devem suportar a sua dose cotidiana de atribulações,
temores, frustrações, penas e adversidades. Os seres humanos, todavia, têm o
privilégio de terem de se sujeitar a um peso adicional, a uma dose extra de
atribulações cotidianas, causadas por um grupo de pessoas que pertencem ao
mesmo gênero humano. Este grupo é muito mais poderoso que a Máfia ou que o
Complexo industrial-militar ou que a Internacional Comunista. É um grupo não
organizado, que não faz parte de nenhuma hierarquia, que não tem chefe, nem
presidente, nem estatuto, mas que consegue ainda assim operar em perfeita
sintonia como se fosse guiado por uma mão invisível, de tal modo que as
atividades de qualquer membro contribuem potencialmente para reforçar e amplificar
as atividades de todos os demais.
A natureza, o caráter e o comportamento dos membros
deste grupo são o argumento das páginas que seguem. É necessário salientar
neste ponto que este ensaio não é fruto de cinismo nem um exercício de
derrotismo social – não mais do que o é um livro de microbiologia. As seguintes
páginas são, de fato, o resultado de um esforço construtivo para investigar,
conhecer e, portanto, possivelmente, neutralizar uma das mais poderosas e
obscuras forças que impedem o crescimento do bem-estar e da felicidade humana.
1º Capítulo – A Primeira Lei Fundamental
A Primeira Lei Fundamental da estupidez humana afirma sem ambiguidade que: Sempre e inevitavelmente cada um de nós subestima o número de indivíduos estúpidos em circulação¹.
À primeira vista esta
afirmação pode parecer trivial, ou óbvia, ou até mesquinha, ou mesmo todas as
três coisas juntas. No entanto, um exame mais atento revela plenamente a sua
realista veracidade. Considere-se o que segue. Por mais alta que seja a
estimativa quantitativa que alguém faça da estupidez humana, resta-se
repetidamente e recorrentemente espantado pelo fato de que:
a)
Pessoas que
julgávamos no passado como racionais e inteligentes revelam-se depois,
subitamente, inequívoca e irremediavelmente, estúpidas;
b)
Dia após dia, com
uma incessante monotonia, vemo-nos dificultados e obstruídos em nossas próprias
atividades por indivíduos teimosamente estúpidos, que aparecem repentina e
inesperadamente nos lugares e nos momentos menos oportunos.
A Primeira
Lei Fundamental nos
impede de atribuir um valore numérico à fração de pessoas estúpidas em relação
ao total da população: qualquer estimativa numérica resultaria em uma
subestimação. Por isto, nas páginas seguintes denotar-se-á a quota de pessoas
estúpidas no conjunto de uma população com o símbolo s.
¹ Os autores do Velho Testamento estavam cientes da existência da Primeira Lei Fundamental e a parafrasearam ao afirmar que “stultorum infinitum numerus”, mas cometeram um exagero poético. O número de pessoas estúpidas não pode ser infinito porque o número de pessoas vivas é finito. (N. do A.)
¹ Os autores do Velho Testamento estavam cientes da existência da Primeira Lei Fundamental e a parafrasearam ao afirmar que “stultorum infinitum numerus”, mas cometeram um exagero poético. O número de pessoas estúpidas não pode ser infinito porque o número de pessoas vivas é finito. (N. do A.)
2º Capítulo – A Segunda Lei Fundamental
As tendências culturais
predominantes hoje nos países ocidentais favorecem uma visão igualitária da
Humanidade. Ama-se pensar no Homem como o produto de massa de uma linha de
montagem perfeitamente organizada. A genética e a sociologia, sobretudo, esforçam-se
para provar, com uma muralha impressionante de dados científicos e formulações,
que todos os homens são por naturezas iguais e que, se alguns são mais iguais
que os outros, isto é atribuível à educação e ao ambiente social, e não à Mãe
Natureza. Trata-se de uma opinião generalizada de que pessoalmente não
compartilho. É a minha firme convicção, sustentada por anos de observações e
experimentos, que os homens não são iguais, que alguns são estúpidos e outros
não, e que a diferença é determinada não por forças ou fatores culturais, mas
por características biogenéticas da inescrutável Mãe Natureza. Alguém é
estúpido da mesma forma que um outro é ruivo; alguém pertence ao grupo dos
estúpidos como um outro pertence a um grupo sanguíneo. Em resumo, alguém nasce
estúpido por vontade indecifrável e indiscutível da Divina Providência.
Mesmo convencido que uma
fração s de seres humanos seja estúpida e que o seja por
vontade da Providência, não sou um reacionário que tenta reintroduzir
furtivamente discriminações de classe ou de raça. Creio fixamente que a
estupidez seja uma prerrogativa indiscriminada de todo e qualquer grupo humano,
e que tal prerrogativa esteja uniformemente distribuída segundo uma proporção
constante. Este fato é cientificamente expresso pela Segunda Lei Fundamental,
que diz que: A probabilidade de uma certa pessoa ser estúpida é independente
de qualquer outra característica desta mesma pessoa.
A este propósito, a Natureza
parece realmente ter superado a si mesma. É fato conhecido que a Natureza,
ainda que misteriosamente, age de forma a manter constante a frequência
relativa de certos fenômenos naturais. Por exemplo, quer os homens proliferem
no Polo Norte ou no Equador, quer os casais que se unem sejam bem nutridos ou
subdesenvolvidos, quer sejam negros, vermelhos, brancos ou amarelos, a relação
macho-fêmea entre os recém-nascidos é constante, com uma ligeira prevalência de
machos. Não sabemos como a natureza faz para obter este extraordinário
resultado, mas sabemos que para obtê-lo ela deve operar com grandes números. O
fato extraordinário acerca da frequência da estupidez é que a Natureza consiga
fazer com que tal frequência seja sempre e em qualquer parte constante e,
portanto igual à probabilidade s, independentemente das dimensões
do grupo, tanto que se encontra o mesmo percentual de pessoas estúpidas seja
tomando-se grupos muito amplos ou grupos muito reduzidos. Nenhum outro tipo de
fenômeno sujeito a observações oferece uma prova tão singular do poder da
Natureza. A prova de que a educação e o ambiente social não tem nada a ver com
a probabilidade foi fornecida por uma série de experimentos conduzidos em
muitas universidades do mundo. Podemos subdividir a população de uma
universidade em quatro grandes categorias: os zeladores, os funcionários, os
estudantes e o corpo docente.
Todas as vezes em que se
analisaram os zeladores, descobriu-se que uma fração deles era de
estúpidos. Dado que o valor de s era mais alto do que se
esperava (Primeira Lei),
pensou-se inicialmente, pagando tributo à moda corrente, que o fato fosse
devido à pobreza das famílias das quais os zeladores geralmente provêm, e à sua
escassa instrução. Mas analisando os grupos mais elevados, notou-se que a mesma
porcentagem prevalecia também entre os funcionários e os estudantes. Ainda mais
impressionantes foram os resultados obtidos entre o corpo docente. Seja
considerando uma universidade grande ou uma pequena, um instituto famoso ou um
obscuro, descobriu-se que a mesma fração s de professores era
composta de estúpidos. Foi tal a surpresa com os resultados obtidos que se
resolveu estender a pesquisa a um grupo particularmente selecionado, a uma
verdadeira e própria “élite”, isto é, aos ganhadores do Prêmio
Nobel. O resultado confirmou os poderes superiores da Natureza: uma fração s dos
Prêmios Nobel é constituída de estúpidos.
Este resultado é difícil de
aceitar e digerir, mas várias evidências experimentais nos provaram a sua
fundamental validade. A Segunda Lei Fundamental é
uma lei de ferro e não admite exceção. O Movimento de Liberação da Mulher
confirma a Segunda Lei, já que esta lei demonstra que os indivíduos
estúpidos são proporcionalmente tão numerosos entre os homens quanto entre as
mulheres. As populações dos países do Terceiro Mundo consolar-se-ão com a Segunda
Lei, já que ela demonstra que, no final das contas, as populações ditas
“desenvolvidas” não são assim tão desenvolvidas. Quer a Segunda Lei Fundamental agrade
ou não, mesmo assim as suas implicações são diabolicamente inelutáveis: ela diz
de fato que, quer frequentando círculos elegantes, quer refugiando-se entre os
cortadores de cabeça da Polinésia, quer enclausurando-se em um mosteiro ou quer
decidindo transcorrer o resto da vida na companhia de mulheres belas e
luxuriosas, o fato permanece de que deveremos sempre enfrentar a mesma
quantidade de gente estúpida – percentual que (de acordo com a Primeira
Lei) superará sempre as mais negras previsões.
3º Capítulo – Um intervalo técnico
Neste ponto é necessário esclarecer o conceito de estupidez humana e definir a dramatis persona. Os indivíduos são caracterizados por diferentes graus de propensão a sociabilizar. Há indivíduos para os quais qualquer contato com outros indivíduos é uma dolorosa necessidade. Eles devem literalmente suportas as pessoas e as pessoas devem suportá-los No outro extremo do espectro estão os indivíduos que não podem absolutamente viver sozinhos e estão até mesmo dispostos a gastar seu tempo na companhia de pessoas que desdenham, para não ficarem sozinhos. Entre esses dois extremos existem uma grande variedade de condições, se bem que a grande maioria das pessoas esteja mais próxima do tipo que não pode suportar a solidão e não do tipo que não tem propensão a contatos humanos. Aristóteles reconheceu este fato quando escreveu que “o homem é um animal social”, e a validade da sua afirmação é demonstrada pelo fato de que nós nos movimentamos em grupos sociais, que há mais pessoas casadas do que solteiras, que tanta riqueza e tempo sejam desperdiçados em exasperantes e maçantes cocktail parties e que à palavra solidão venha normalmente associada uma conotação negativa.
Quer pertença-se
ao tipo eremita ou ao tipo mundano, deve-se de qualquer modo lidar com gente,
ainda que com diversa intensidade. De vez em quando, até os eremitas encontram
pessoas. Além do que, põe-se sempre em relação com os seres humanos também os
evitando. Aquilo que eu poderia ter feito por um indivíduo ou por um grupo, e
que não fiz, representa um “custo-oportunidade” (isto é, um ganho perdido, ou
uma perda) para aquela particular pessoa ou grupo. A moral da história é que
cada um de nós tem uma conta corrente com cada um dos demais. De qualquer ação,
ou não ação, cada um de nós leva um ganho ou uma perda, e ao mesmo tempo
determina um ganho ou uma perda a algum outro.Os ganhos e perdas podem ser
oportunamente ilustrados em um gráfico, e a figura 1 mostra o gráfico base
utilizável para este escopo.
Figura 1
|
O gráfico refere-se a um
indivíduo que chamaremos de Tício. O eixo X mede o ganho obtido por Tício em
sua ação. O eixo Y mede o ganho que outra pessoa, ou grupo de pessoas,
experimenta em virtude da ação de Tício. O ganho pode ser positivo, nulo ou
negativo; um ganho negativo equivale a uma perda. O eixo X mede os ganhos
positivos de Tício à direita do ponto O, enquanto as perdas de Tício são
indicadas à esquerda do ponto O. O eixo Y, respectivamente sobre e sob o ponto
O, mede os ganhos e perdas da pessoa, ou grupo de pessoas, com que Tício tem
relação.
Para tornar as coisas claras, tomemos um exemplo hipotético, referindo-nos à figura 1. Tício realiza uma ação que atinge Caio. Se Tício com a sua ação consegue um ganho e Caio, pela mesma ação, sofre uma perda, a ação será registrada no gráfico por um símbolo que aparecerá em qualquer ponto da área B.
Para tornar as coisas claras, tomemos um exemplo hipotético, referindo-nos à figura 1. Tício realiza uma ação que atinge Caio. Se Tício com a sua ação consegue um ganho e Caio, pela mesma ação, sofre uma perda, a ação será registrada no gráfico por um símbolo que aparecerá em qualquer ponto da área B.
Os ganhos e perdas podem ser
registrados em dólares ou francos ou liras, caso se queira, mas devem-se
incluir também as recompensas e as satisfações psicológicas e emotivas, e os
estresses psicológicos e emotivos. Estes são bens (ou males) imateriais, e,
portanto bastante difíceis de mensurar com parâmetros objetivos. A análise do
tipo custo-benefício pode ajudar a resolver o problema, ainda que não
completamente, mas não quero aborrecer o leitor com detalhes técnicos: uma
margem de imprecisão pode prejudicar as medidas, mas não a essência do
argumento. Um ponto, contudo deve ficar claro. Ao considerar a ação de Tício e
ao avaliar os benefícios ou perdas que Tício leva, deve-se levar em conta o
sistema de valores de Tício; mas para determinar o ganho ou a perda de Caio, é
absolutamente indispensável referir-se ao sistema de valores de Caio e não
àquele de Tício. Frequentemente ignora-se esta norma de fair play,
e muitos problemas derivam exatamente do fato de que não se respeita este
princípio de civil comportamento. Vamos recorrer mais uma vez a um exemplo
banal. Tício dá uma pancada na cabeça de Caio e obtém satisfação. Tício pode
talvez alegar que Caio ficou feliz por ter recebido uma pancada na cabeça. Mas
é altamente provável que Caio não compartilhe a mesma opinião. Ao invés, Caio
poderia considerar a pancada na sua cabeça um desagradabilíssimo acidente. Se a
pancada na cabeça de Caio foi um ganho ou uma perda para Caio, cabe a Caio
dizê-lo, e não a Tício.
4º Capítulo – A Terceira (e áurea) Lei Fundamental
A Terceira Lei Fundamental pressupõe, ainda que não o enuncie completamente, que os seres humanos pertencem a uma de quatro categorias fundamentais: os ingênuos, os inteligentes, os bandidos e os estúpidos. O leitor arguto compreenderá facilmente que estas quatro categorias correspondem às quatro áreas H, I, B, S do gráfico base (ver fig. 1 [na postagem anterior]).
Se Tício realiza uma ação e
sofre uma perda, enquanto ao mesmo tempo oferece uma vantagem a Caio, o símbolo
de Tício cairá no campo H: Tício agiu como ingênuo. Se Tício realiza uma ação
com a qual obtém uma vantagem, e ao mesmo tempo oferece uma vantagem também a
Caio, o símbolo de Tício cairá na área I: Tício agiu inteligentemente. Se Tício
realiza uma ação com a qual ganha uma vantagem, causando uma perda a Caio, o
ponto de Tício cairá na área B: Tício agiu como bandido. A estupidez
corresponde à área S e a todas as posições no eixo Y abaixo do ponto O. A Terceira Lei Fundamental esclarece que: Uma
pessoa estúpida é uma pessoa que causa um dano a uma outra pessoa ou grupo de
pessoas, sem, ao mesmo tempo, obter qualquer vantagem para si ou até mesmo
sofrendo uma perda.
Diante da Terceira Lei Fundamental, as
pessoas sensatas reagem instintivamente com ceticismo e incredulidade. O fato é
que as pessoas sensatas têm dificuldades em conceber e a compreender um
comportamento irracional. Mas deixemos de lado a teoria e observemos ao invés
disso o que nos acontece na prática, na vida de todos os dias. Todos nos
recordamos de casos nos quais tivemos desafortunadamente de lidar com um
indivíduo que buscava para si um ganho, causando-nos uma perda: deparamo-nos
com um bandido. Podemos nos recordar ainda de casos nos quais um indivíduo
realizou uma ação cujo resultado foi-lhe uma perda e para nós um ganho: lidamos
com um ingênuo¹.
Podemos nos recordar também de
casos nos quais um indivíduo realizou uma ação com a quais ambas as partes
levaram vantagem: tratava-se de uma pessoa inteligente. Tais casos ocorrem
continuamente. Mas refletindo bem, é preciso admitir que estes casos não
representam a totalidade de eventos que caracterizam a nossa vida de todos os
dias. A nossa vida é também pontuada por eventos em que sofremos perdas de
dinheiro, tempo, energia, apetite, tranquilidade e bom-humor, por culpa das
improváveis ações de alguma absurda criatura que aparece nos momentos mais
impensáveis e inconvenientes para provocar-nos danos, frustrações e
dificuldades, sem ter absolutamente nada a ganhar com aquilo que realiza.
Ninguém sabe, compreende ou pode explicar por que essa absurda criatura faz o
que faz. De fato, não há explicação – ou melhor – a explicação é uma só: a
pessoa em questão é estúpida.
¹ Note-se a definição precisa
“um indivíduo realizou uma ação”. O fato de ter sido ele a
iniciar a ação é decisivo para estabelecer que ele é um ingênuo. Se tivesse
sido eu a empreender a ação que determinou o meu ganho e a
sua perda, a conclusão seria diferente: neste caso, eu teria sido um bandido.
(N. do A.)
5º Capítulo – Distribuição de frequências
A maior parte das pessoas não age coerentemente. Em algumas circunstâncias uma pessoa age inteligentemente e em outras aquela mesma pessoa comporta-se como ingênua. A única importante exceção à regra é representada pelas pessoas estúpidas, que normalmente mostram uma máxima propensão a uma plena coerência em todos os campos de atividade. Deste fato não segue que pode-se assinalar no gráfico apenas as posições dos indivíduos estúpidos. Podemos calcular para toda pessoa a sua posição no plano da figura 1 [na parte 3] com base na média ponderada. Uma pessoa inteligente pode às vezes comportar-se como ingênua, como pode às vezes assumir um comportamento banditesco. Mas, como a pessoa em questão é fundamentalmente inteligente, a maior parte das suas ações terá a característica da inteligência e a sua média ponderada colocar-se-á no quadrante I do gráfico n° 1.
O fato de ser
possível colocar no gráfico os indivíduos, em vez das suas ações, permite
digressões sobre a frequência dos bandidos e dos estúpidos. O perfeito bandido
é aquele que, com as suas ações, causa a outros perdas equivalentes aos seus
ganhos. O mais primitivo tipo de banditismo é o roubo. Uma pessoa que rouba
10.000 liras sem causar-nos danos adicionais é um bandido perfeito: perdemos
10.000 liras, ele ganha 10.000. No gráfico, os bandidos perfeitos aparecerão
sobre a linha diagonal de 45 graus que divide a área B em duas subáreas
perfeitamente simétricas (linha OM da figura 2).
Figura 2
|
Todavia, os bandidos perfeitos são relativamente
poucos. A linha OM divide a área B nas duas subáreas Bi e Bs, e a grande
maioria dos bandidos coloca-se em algum ponto destas duas subáreas.
Os bandidos que ocupam a área Bi são aqueles que
procuram para si mesmos ganhos maiores que as perdas que causam aos outros.
Todos os bandidos que ocupam uma posição na área Bi são desonestos com um
elevado grau de inteligência, e quanto mais a sua posição se aproxima da parte
direita do eixo X, mais características tais bandidos compartilham com a pessoa
inteligente. Infelizmente, os indivíduos que ocupam a área Bi não são muito
numerosos. A maior parte dos bandidos coloca-se efetivamente na área Bs. Os
bandidos que se introduzem nesta área são indivíduos cujas ações trazem-lhes
vantagens inferiores às perdas causadas aos outros. Se alguém te faz cair e
quebrar uma perna para roubar 10.000 liras, ou causa-te danos ao carro no valor
de meio milhão de liras para roubar o som, com a qual obterá no máximo 30.000
liras, se alguém te dá um tiro de revólver e te mata só para passar uma noite
em companhia da tua mulher em Monte Carlo, podemos estar certos de que não se
trata de um bandido “perfeito”. Sempre utilizando os seus parâmetros para
mensurar os seus ganhos (mas usando os nossos parâmetros para mensurar as
nossas perdas), ele cairá na área Bs, muito próximo ao limite da estupidez
pura.
A distribuição de frequências das pessoas estúpidas é totalmente diferente da dos bandidos e dos ingênuos. Enquanto estes últimos estão na maior parte espalhados pelo espaço da respectiva área, os estúpidos estão na maior parte concentrados ao longo do eixo Y abaixo do ponto O. A razão disso é que a grande maioria das pessoas estúpidas são fundamentalmente e firmemente estúpidas – em outras palavras, eles insistem com perseverança em causar danos ou perdas a outras pessoas sem obter nenhum ganho para si, seja este positivo ou negativo. Há, no entanto, pessoas que, com suas inverossímeis ações, não apenas causam danos a outras pessoas, mas também a si mesmos. Estes formam um gênero de superestúpidos que, com base no nosso sistema de cálculo, aparecerão em qualquer ponto da área S à esquerda do eixo Y.
A distribuição de frequências das pessoas estúpidas é totalmente diferente da dos bandidos e dos ingênuos. Enquanto estes últimos estão na maior parte espalhados pelo espaço da respectiva área, os estúpidos estão na maior parte concentrados ao longo do eixo Y abaixo do ponto O. A razão disso é que a grande maioria das pessoas estúpidas são fundamentalmente e firmemente estúpidas – em outras palavras, eles insistem com perseverança em causar danos ou perdas a outras pessoas sem obter nenhum ganho para si, seja este positivo ou negativo. Há, no entanto, pessoas que, com suas inverossímeis ações, não apenas causam danos a outras pessoas, mas também a si mesmos. Estes formam um gênero de superestúpidos que, com base no nosso sistema de cálculo, aparecerão em qualquer ponto da área S à esquerda do eixo Y.
6º Capítulo– Estupidez e poder
Como todas as criaturas humanas, também os estúpidos influenciam outras pessoas com intensidades muito variadas. Alguns estúpidos causam normalmente apenas perdas limitadas, enquanto alguns conseguem causar danos impressionantes não só a um ou dois indivíduos, mas a inteiras comunidades ou sociedades. O potencial de uma pessoa estúpida criar danos depende de dois fatores principais. Antes de tudo, depende do fator genético. Alguns indivíduos herdam notáveis doses do gene da estupidez e, graças a tal hereditariedade, pertencem, desde o nascimento, à elite do seu grupo. O segundo fator que determina o potencial de uma pessoa estúpida deriva da posição de poder e de autoridade que ela ocupa na sociedade. Entre burocratas, generais, políticos, chefes de estado e homens da igreja, encontra-se a áurea proporção s de indivíduos fundamentalmente estúpidos, cuja capacidade de prejudicar o próximo foi (ou é) perigosamente acrescida pela posição de poder que ocuparam (ou ocupam).
A pergunta que frequentemente
colocam-se as pessoas sensatas é de que modo e como pessoas estúpidas conseguem
chegar a posições de poder e de autoridade.
Classe e casta (seja laica ou eclesiástica) foram as instituições sociais que permitiram um fluxo constante de pessoas estúpidas a posições de poder na maior parte das sociedades pré-industriais. No mundo industrial moderno, classe e casta vão perdendo cada vez mais destaque. Mas, no lugar de classe e casta, existem partidos políticos, burocracia e democracia. Em um sistema democrático, as eleições gerais são um instrumento de grande eficácia para assegurar a manutenção da fração s entre os poderosos. Recordemos que, com base na Segunda Lei, a fração s de pessoas que votam são estúpidas, e as eleições oferecem-lhes uma magnífica oportunidade para prejudicar todos os outros, sem obter nenhum ganho com suas ações. Eles atingem esse objetivo, contribuindo para a manutenção do nível s de estúpidos entre as pessoa no poder.
Classe e casta (seja laica ou eclesiástica) foram as instituições sociais que permitiram um fluxo constante de pessoas estúpidas a posições de poder na maior parte das sociedades pré-industriais. No mundo industrial moderno, classe e casta vão perdendo cada vez mais destaque. Mas, no lugar de classe e casta, existem partidos políticos, burocracia e democracia. Em um sistema democrático, as eleições gerais são um instrumento de grande eficácia para assegurar a manutenção da fração s entre os poderosos. Recordemos que, com base na Segunda Lei, a fração s de pessoas que votam são estúpidas, e as eleições oferecem-lhes uma magnífica oportunidade para prejudicar todos os outros, sem obter nenhum ganho com suas ações. Eles atingem esse objetivo, contribuindo para a manutenção do nível s de estúpidos entre as pessoa no poder.
7º Capítulo – O poder da estupidez
Não é difícil compreender como o poder político ou econômico ou burocrático amplifica o potencial nocivo de uma pessoa estúpida. Mas devemos ainda explicar e entender o que rende essencialmente perigosa uma pessoa estúpida; em outras palavras, em que consiste o poder da estupidez.
Essencialmente, os estúpidos
são perigosos e funestos porque as pessoas sensatas acham difícil imaginar e
entender um comportamento estúpido. Uma pessoa inteligente pode entender a
lógica de um bandido. As ações do bandido seguem um modelo de racionalidade: racionalidade
perversa, caso queiram, mas sempre racionalidade. O bandido quer “algo mais” na
sua conta. Dado que não é inteligente o bastante para inventar métodos para
obter “algo mais” para si buscando ao mesmo tempo “algo mais” também para os
outros, ele obterá o seu “algo mais” causando “algo menos” ao seu próximo. Tudo
isso não é justo, mas é racional e, se é racional, pode ser previsto. Pode-se,
em resumo, prever as ações de um bandido, as suas imundas manobras e as suas
deploráveis aspirações e amiúde podem-se preparar as defesas oportunas.
Com uma pessoa estúpida tudo
isso é absolutamente impossível. Como está implícito na Terceira Lei Fundamental,
uma criatura estúpida perseguir-te-á sem razão, sem um plano preciso, nos
momentos e nos locais mais improváveis e mais impensáveis. Não há nenhum método
racional para prever se, quando, como e por que uma criatura estúpida levará
adiante o seu ataque. Frente a um indivíduo estúpido, estamos completamente à
sua mercê. Já que as ações de uma pessoa estúpida não estão de acordo com as
regras da racionalidade, segue que:
a)
Geralmente somos
tomados de surpresa pelo ataque;
b)
Mesmo quando se
toma consciência do ataque, não se consegue organizar uma defesa racional,
porque o ataque, por si mesmo, é desprovido de qualquer estrutura racional.
O fato de que a atividade e os movimentos de uma
criatura estúpida são absolutamente erráticos e irracionais não apenas torna a
defesa problemática, mas torna também extremamente difícil qualquer
contra-ataque – é como tentar disparar em um objeto capaz dos mais improváveis
e inimagináveis movimentos. Isso é o que Dickens e Schiller tinham em mente
quando um afirmou que “com estupidez e boa digestão, o homem pode enfrentar
qualquer coisa”, e o outro que “contra a estupidez até os deuses combatem em
vão”.
É preciso levar em conta também uma outra
circunstância. A pessoa inteligente sabe que é inteligente. O bandido está
consciente de ser um bandido. O ingênuo está penosamente repleto do senso da
própria ingenuidade. Ao contrário de todos estes personagens, o estúpido não
sabe que é estúpido. Isto contribui fortemente a dar maior força, incidência e
eficácia às suas ações devastadoras. O estúpido não é inibido por aquele
sentimento que os anglos saxões chamam de self-consciousness. Com o
sorriso nos lábios, como se estivesse realizando a coisa mais natural do mundo,
o estúpido aparecerá improvisadamente para destroçar os teus planos, destruir a
tua paz, complicar-te a vida e o trabalho, fazer-te perder dinheiro, tempo,
bom-humor, apetite, produtividade – tudo isso sem malícia, sem remorso, e sem
motivo. Estupidamente.
8º Capítulo – A Quarta Lei Fundamental
Não se deve ficar espantado se as pessoas ingênuas, isto é, aquelas que no nosso sistema caem na área H, em geral não consigam reconhecer a periculosidade das pessoas estúpidas. O fato só representa outra manifestação da sua ingenuidade. O que é verdadeiramente surpreendente é que mesmo as pessoas inteligentes e os bandidos frequentemente não conseguem identificar o poder devastador e destruidor da estupidez. É extremamente difícil explicar por que isso ocorre. Pode-se apenas conjecturar que frequentemente tanto os inteligentes quanto os bandidos, quando abordados por indivíduos estúpidos, cometem o erro de abandonar-se a sentimentos de autocomplacência e desprezo, ao invés de produzir imediatamente quantidades maiores de adrenalina e preparar as defesas.
É-se geralmente levado a
acreditar que uma pessoa estúpida faça mal somente a si próprio, mas isto
significa enfrentar a estupidez com a ingenuidade. Às vezes, é-se tentado a
associar-se com um indivíduo estúpido com o objetivo de usá-lo para os próprios
objetivos. Tal manobra só pode ter efeitos desastrosos porque: (a) é baseada em
uma completa incompreensão da natureza essencial da estupidez; e (b) dá à
pessoa estúpida mais espaço para o exercício dos seus talentos. Alguém pode se
iludir a manipular uma pessoa estúpida e, até certo ponto, pode-se até
conseguir. Mas, por causa do errático comportamento do estúpido, não se pode prever
todas as suas ações e reações, e em breve ver-se-á desarticulado e pulverizado
por suas imprevisíveis ações.
Tudo isso é claramente
sintetizado pela Quarta Lei Fundamental, que
afirma: As pessoas não estúpidas subestimam sempre o potencial nocivo das
pessoas estúpidas. Em particular, os nãos estúpidos esquecem constantemente
que, em qualquer momento e lugar, e em qualquer circunstância, tratar e/ou
associar-se a indivíduos estúpidos demonstra-se infalivelmente um custosíssimo
erro.
Nos séculos dos séculos, na vida pública e privada,
inúmeras pessoas não levaram em conta a Quarta Lei Fundamental e isso causou incalculáveis
perdas à humanidade.
9º Capítulo – Macroanálise e a Quinta Lei Fundamental
As considerações finais do capítulo precedente conduzem a uma análise do tipo “macro”, na qual, ao invés do bem-estar individual, considera-se o bem-estar da sociedade, definido, neste contexto, como a soma algébrica das condições de bem-estar individual. Uma completa compreensão da Quinta Lei Fundamental é essencial para esta análise. É necessário, por outro lado, acrescentar que, das cinco leis fundamentais, a Quinta é certamente a mais conhecida e o seu corolário é citado muito frequentemente. Ela afirma que:
A pessoa estúpida é o tipo de
pessoa mais perigoso que existe.
O corolário da lei é que:
O estúpido é mais perigoso que
o bandido.
A formulação da
lei e do corolário ainda é do tipo “micro”. Como indicado acima, todavia, a lei
e o seu corolário têm implicações de natureza “macro”. O ponto essencial a ter
em conta é este: o resultado da ação de um perfeito bandido (a pessoa que cai
sobre a linha OM da figura 2) representa pura e simplesmente uma transferência
de riqueza e/ou bem-estar. Depois da ação de um perfeito bandido, ele terá um
“positivo” na sua conta, “positivo” que equivalerá exatamente ao “negativo” que
ele terá causado a uma outra pessoa. Para a sociedade no seu conjunto a
situação não terá melhorado nem piorado. Se todos os membros de uma sociedade
fossem bandidos perfeitos, a sociedade permaneceria em condições estagnantes,
mas não haveria grandes desastres. Tudo se limitaria a uma massiva
transferência de riqueza e bem-estar em favor daqueles que realizaram a ação.
Se todos os membros da sociedade tivessem de executar a ação em turnos regulares,
não apenas a sociedade inteira, mas também os indivíduos particulares, encontrar-se-iam
em um estado de perfeita estabilidade.
Mas quando os
estúpidos colocam-se em ação, a música muda completamente. As pessoas estúpidas
causam perdas a outras pessoas sem receber vantagens para si mesmas. Segue que
a sociedade inteira empobrece.
Figura 3
|
O sistema de cálculo expresso
nos gráficos base mostra que, enquanto todas as ações de indivíduos que caem à
direita da linha POM (ver a figura 3) incrementam o bem-estar da sociedade,
ainda que em graus diversos, as ações de todas as pessoas que caem à esquerda
da mesma linha POM empobrecem a sociedade. Em outras palavras, os ingênuos
dotados de elementos de inteligência mais elevados com respeito à média
da sua categoria (área Hi), assim como os bandidos com dotes de inteligência
(área Bi), e, sobretudo os inteligentes (área I) contribuem todos, em medidas
diferentes, a aumentar o bem-estar da sociedade. Por outro lado, os bandidos
com dotes de estupidez (área Bs) e os ingênuos com elementos de estupidez (área
Hs) só fazem acrescentar as perdas àquelas já causadas pelas pessoas estúpidas
(área S), aumentando assim o seu nefasto poder destruidor.
Tudo isso sugere algumas
reflexões sobre o desempenho da sociedade. De acordo com a Segunda Lei Fundamental, a
fração de gente estúpida é uma constante s, que não é influenciada
por tempo, espaço, raça, classe ou qualquer outra variável histórica ou sociocultural.
Seria um grave erro crer que o número de estúpidos seja mais elevado em uma
sociedade em declínio que em uma sociedade em ascensão. Ambas sofrem o mesmo
percentual de estúpidos. A diferença entre as duas sociedades consiste no fato
de que, na sociedade em declínio:
a)
Aos membros
estúpidos da sociedade é permitido, pelos demais membros, tornarem-se mais
ativos;
b)
Há uma mudança na
composição da população de não estúpidos, com um aumento relativo das
populações das áreas Hs e Bs.
Esta hipótese teórica é abundantemente confirmada por
uma exaustiva análise de casos históricos. Com efeito, a análise histórica nos
permite reformular as conclusões teóricas de modo mais completo e com detalhes
mais realísticos. Seja considerando a era clássica, medieval, moderna ou
contemporânea, permanecemos assombrados pelo fato de que todo país em ascensão
tem a sua inevitável quota de pessoas estúpidas. Todavia, um país em ascensão
tem também um percentual insolitamente alto de indivíduos inteligentes, que
buscam manter a fração s sob controle, e que, ao mesmo tempo,
procuram ganhos para si mesmos e para os demais membros da comunidade,
suficientes para tornar o progresso uma certeza.
Em um país em declínio, o percentual de indivíduos
estúpidos é sempre igual a s; todavia, na população restante nota-se,
especialmente entre os indivíduos no poder, uma alarmante proliferação de
bandidos com uma alta porcentagem de estupidez (subárea Bs do quadrante B na
fig. 3) e, entre aqueles não ao poder, um igualmente alarmante aumento no
número de ingênuos (área H no gráfico base, fig. 1). Tal mudança na composição
da população de não estúpidos reforça inevitavelmente o poder destruidor da
fração s de estúpidos e leva o país à ruína.
Apêndice
Nas páginas seguintes, o leitor encontrará um certo número de gráficos que poderá utilizar para registrar as ações de pessoas ou grupos com os quais tem de lidar constantemente. Isto permitirá formular avaliações precisas das pessoas ou grupos em questão e, portanto, adotar uma linha de ação racional em seus contatos.
[Em virtude do caráter digital desta tradução,
julgou-se necessário fornecer apenas uma cópia do gráfico base. (N. do T.)]
Retirado de:
As leis fundamentais da estupidez humana – por Carlo M. Cipolla – traduzido
do italiano por Luiz Eleno. Disponível em: http://leisdaestupidez.blogspot.com.br/