Eu estava saindo da
Igreja de Saint Patrick, em Nova York, quando um rapaz brasileiro se aproximou.
- Que bom encontrá-lo
aqui - disse sorrindo. - Precisava muito dizer alguma coisa a você.
Eu também gostei do
encontro com um desconhecido. Convidei-o para tomar um café, contei a chatice
que foi minha viagem a Denver, sugeri que fosse até o Harlem no Domingo para,
para assistir a um serviço religioso.
O rapaz, que devia ter
vinte e poucos anos, me escutava sem dizer nada.
Eu continuei a falar.
Disse que acabara de ler um livro de ficção sobre um terrorista que toma de
assalto a Igreja de Saint Patrick, e o escritor descrevia tão bem o cenário que
me chamara a atenção sobre muitas coisas que jamais havia visto em minhas
visitas ao local. Assim tomara a decisão de passar por ali naquela manhã.
Ficamos quase uma hora
juntos, tomamos dois cafés, e eu conduzi a conversa o tempo todo. No final, nos
despedimos, e desejei uma excelente viagem ao rapaz.
- Obrigado - disse ele,
afastando-se.
Foi quando notei que seus
olhos estavam tristes; alguma coisa tinha dado errado, e eu não sabia
exatamente o quê. Só depois de caminhar algumas quadras foi que me dei conta: o
rapaz se aproximara dizendo que precisava muito falar comigo.
Durante o tempo que
passamos juntos, eu assumira o controle da situação. Em nenhum momento
perguntei o que ele queria dizer; na tentativa de ser simpático, preenchi todos
os espaços, não permitindo nenhum momento de silêncio, em que o rapaz
finalmente pudesse transformar aquele monólogo num diálogo.
Talvez ele tivesse algo
muito importante para compartilhar comigo. Talvez, se naquele momento eu
estivesse realmente me aberto para a vida, teria também algo para entregar ao
rapaz. Talvez tanto a minha vida como a dele tivessem mudado radicalmente
depois daquele encontro. Nunca vou saber, e não vou ficar me torturando com o
fato de que não soube aproveitar um momento mágico daquele dia; erros
acontecem.
Mas, desde então, procuro
manter viva na memória a cena da minha despedida e os olhos tristes do rapaz,
quando eu não soube receber o que me era destinado, tampouco consegui dar
aquilo que eu queria, por mais que me esforçasse.
Do livro: Histórias para pais, filhos e netos (Paulo
Coelho).
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