No Tibet, antes da
invasão chinesa, havia um famoso templo para onde se encaminhavam muitos
candidatos a monges. Um dia chegou um candidato, muito orgulhoso de seus
conhecimentos do Zen. Exigiu ser entrevistado pelo lama-chefe daquela lamaseria.
O monge lhe perguntou:
– O que você quer?
– Quero ser monge nesta lamaseria. – asseverou o candidato.
– Mas o que você sabe fazer?
– Eu sei tudo sobre o Zen. – respondeu com orgulho.
– Mostre-me então o Zen. – pediu o monge
O rapaz sentou-se e na mais perfeita posição de lótus fechou os olhos e começou a meditar. O monge observou por alguns minutos e logo disse:
– Vá embora!
O rapaz, muito
aborrecido, perguntou:
– Por quê?
E o monge então
explicou:
– Já temos muitas
estátuas aqui, não precisamos de mais uma.
Há coisas que são
tão simples que acabam nem nos interessando. Nós temos a tendência a buscar
coisas que sejam complicadas, e rejeitamos o que é simples. Eu digo: a vida é
curta demais para que a desperdicemos com complicações. Isso não quer dizer que
deixemos de lado os desafios, porque eles nos educam e fortalecem, mas também
precisamos entender que existem coisas que só são complicadas porque queremos
que sejam assim, talvez até para satisfazer nosso ego.
Um dia fui
questionado sobre como obter uma projeção astral, e eu respondi que era preciso
desejar. Essa resposta pareceu tão simples que para muitos nem foi considerada
verdade. E foram ler um livro chamado Projeciologia, que tem mais de 1000
páginas, repleto de linguagens técnicas. Vão fazer essa leitura e no fim vão
descobrir: "puxa, mas era só desejar". Mas é mesmo uma questão de
desejar, simples assim, sem complicações nem aquilo a que meu Mestre chama de
"tecnicalidades esotéricas", aqueles "ismos", etc. O estudo
da Magia está cheio dessas tecnicalidades, a maioria escritas por leigos. Não
posso deixar de observar que existem muitas pessoas que seguem uma equivocadíssima
filosofia de vida que diz Pra que fazer fácil se dá pra complicar?
“Há regatos no
deserto, há um caminho na solidão": na simplicidade eu aprendi muito mais
do que com as tecnicalidades. A gente aprende muito observando a vida. Aliás,
desse jeito aprende-se tanto ou mais do que passando anos lendo livros. Há uma
escola no mundo, que é o próprio mundo. Sem rejeitar a validade do ensino
teórico, que é importantíssima, um magista que tenha sido formado unicamente à
custa de ensino teórico não tem a mesma válida daquele que tem também o estudo
prático. Há pessoas que vivem em função de livros, mas não "vivem”. Um
magista vive no mundo sem ser do mundo, mas vive nesse mundo. E ele busca a
simplicidade, nas coisas do mundo e nas do espírito. Há um tempo para o
aprendizado teórico e outro para aprender na vida. O magista tem que ter ambas
as experiências, pois que elas se complementam. Mas não devemos dispensar
aquilo que é envolvido em simplicidade, porque a vida e a Magia são simples, o
Ser Humano é que introduziu nelas o seu racionalismo e com ele as complicações,
dando um caráter de solenidade a coisas que estão aí para serem experienciadas.
Para o bom
entendedor, meia palavra basta: a maneira mais eficaz de se esconder alguma
coisa importante é deixá-la à vista de todos, porque não será procurada em
lugares óbvios. E isso acontece porque se sabe que há a tendência de buscar
"esconderijos complicados", e o que é simples nem é considerado. Que
se saiba então: na Magia isso também foi feito, e grandes mistérios e segredos
não estão ocultos, nem são propriedade de Iniciados obscuros em lugares
incessíveis: estão onde qualquer um poderia encontrar. Desde que tenha olhos
para ver e ouvidos para ouvir.
Escrito pelo Mago Daniel no Templo do Mago às 21h do dia 10 de Outubro
de 1999 a.D.
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