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segunda-feira, 2 de junho de 2014

Ensinamentos do Mago




No Tibet, antes da invasão chinesa, havia um famoso templo para onde se encaminhavam muitos candidatos a monges. Um dia chegou um candidato, muito orgulhoso de seus conhecimentos do Zen. Exigiu ser entrevistado pelo lama-chefe daquela lamaseria. O monge lhe perguntou:

– O que você quer? 

– Quero ser monge nesta lamaseria. – asseverou o candidato.

– Mas o que você sabe fazer?

– Eu sei tudo sobre o Zen. – respondeu com orgulho.

– Mostre-me então o Zen. – pediu o monge

O rapaz sentou-se e na mais perfeita posição de lótus fechou os olhos e começou a meditar. O monge observou por alguns minutos e logo disse:
– Vá embora!
O rapaz, muito aborrecido, perguntou:
– Por quê?
E o monge então explicou:
– Já temos muitas estátuas aqui, não precisamos de mais uma.
Há coisas que são tão simples que acabam nem nos interessando. Nós temos a tendência a buscar coisas que sejam complicadas, e rejeitamos o que é simples. Eu digo: a vida é curta demais para que a desperdicemos com complicações. Isso não quer dizer que deixemos de lado os desafios, porque eles nos educam e fortalecem, mas também precisamos entender que existem coisas que só são complicadas porque queremos que sejam assim, talvez até para satisfazer nosso ego.
Um dia fui questionado sobre como obter uma projeção astral, e eu respondi que era preciso desejar. Essa resposta pareceu tão simples que para muitos nem foi considerada verdade. E foram ler um livro chamado Projeciologia, que tem mais de 1000 páginas, repleto de linguagens técnicas. Vão fazer essa leitura e no fim vão descobrir: "puxa, mas era só desejar". Mas é mesmo uma questão de desejar, simples assim, sem complicações nem aquilo a que meu Mestre chama de "tecnicalidades esotéricas", aqueles "ismos", etc. O estudo da Magia está cheio dessas tecnicalidades, a maioria escritas por leigos. Não posso deixar de observar que existem muitas pessoas que seguem uma equivocadíssima filosofia de vida que diz Pra que fazer fácil se dá pra complicar?
“Há regatos no deserto, há um caminho na solidão": na simplicidade eu aprendi muito mais do que com as tecnicalidades. A gente aprende muito observando a vida. Aliás, desse jeito aprende-se tanto ou mais do que passando anos lendo livros. Há uma escola no mundo, que é o próprio mundo. Sem rejeitar a validade do ensino teórico, que é importantíssima, um magista que tenha sido formado unicamente à custa de ensino teórico não tem a mesma válida daquele que tem também o estudo prático. Há pessoas que vivem em função de livros, mas não "vivem”. Um magista vive no mundo sem ser do mundo, mas vive nesse mundo. E ele busca a simplicidade, nas coisas do mundo e nas do espírito. Há um tempo para o aprendizado teórico e outro para aprender na vida. O magista tem que ter ambas as experiências, pois que elas se complementam. Mas não devemos dispensar aquilo que é envolvido em simplicidade, porque a vida e a Magia são simples, o Ser Humano é que introduziu nelas o seu racionalismo e com ele as complicações, dando um caráter de solenidade a coisas que estão aí para serem experienciadas.
Para o bom entendedor, meia palavra basta: a maneira mais eficaz de se esconder alguma coisa importante é deixá-la à vista de todos, porque não será procurada em lugares óbvios. E isso acontece porque se sabe que há a tendência de buscar "esconderijos complicados", e o que é simples nem é considerado. Que se saiba então: na Magia isso também foi feito, e grandes mistérios e segredos não estão ocultos, nem são propriedade de Iniciados obscuros em lugares incessíveis: estão onde qualquer um poderia encontrar. Desde que tenha olhos para ver e ouvidos para ouvir.
Escrito pelo Mago Daniel no Templo do Mago às 21h do dia 10 de Outubro de 1999 a.D.

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